sábado, 13 de fevereiro de 2010

Natimorto


A 13ª Mostra de Cinema de Tiradentes, nos trouxe uma grata surpesa. Surpresa pra mim, ao menos, que não conhecia o trabalho do escritor, quadrinista e, há algum tempo, ator Lourenço Mutarelli. Me refiro ao filme Natimorto, entusiasmadamente aplaudido pleos que o assistiram na Tenda à noite do dia 24/01. Estranhamente o filme não foi escolhido enttre os grandes vencedores, nem pela crítica, nem pelo juri popular.
O filme, a exemplo de “O Cheiro do Ralo” é uma adaptação de um romance de Mutarelli. “Natimorto” já havia sido convertido em peça teatral em 2007, antes de chegar ao cinema pelas mãos do diretor Paulo Machline.
A trama conta com apenas três personagens – um, por assim dizer, caça-talentos, o Agente, vivdo pelo prórpio Lourenço Mutrarelli; uma cantora lírica (Simone Spoladore) e a mulher do agente (Betty Gofman). Mutarelli já havia feito pontas em filmes como “O Cheiro do Ralo” e “É Proibido Fumar”, entretanto, sua atuação como protagonista em “Natimorto” é surpreendente. É bem provável que muitos criticos manifestem opiniões contrárias, mas o jeito com que encarnou o Agente foi adimirável pela forma simples, sem grnde excessos, mas não destituída de emoção. Talvez, assim tenha sido pois ele , de alguma forma, já tinha “vivdo” a personagem.
A forma como é construída lingüísticamente a trama é única e digna de aclamação. Na história um Agente encontra uma cantora lírica a quem elege como musa, voz pura que só ele poderia compreender. Ao perguntar se ela ‘ainda’ fumava, o Agente expõe sua opção por ser fumante convicto e mais, fala de uma relação entre as imagens da propaganda anti-tabagistas dos maços de cigarro e os Arcanos maiores do tarô. Assim, pelas asquerosas imagens contidas em cada maço de cigarros seria possível prever o futuro, pelo menos do dia. Ele compara, por exemplo, a figura do homem que, não conseguindo respirar, afrouxa sua gravata com a do Enforcado. Isso seduz de imediato a cantora que, num jogo de humor do autor, diz por mais de uma vez que ele deveria escrever um livro. Mas o Agente não tem intenção de escrever um livro para os outros lerem. Pela ‘leitura’ dos maços de cigarros ele escreve e dá significado a sua vida, construindo o possível destino para seu dia.
É dessa maneira que o Agente propõe a cantora viverem sós num quarto de hotel. Ele não teria que enfrentar a sua mulher, com quem tinha péssima relação, nem o mundo em geral, podendo sua musa eleita, da mesma forma, se livrar das vaias e tomates do público. E para garantir a conclusão de sua proposta ele faz questão de se dizer assexuado, ou pelo menos, com o intuito de assim ser. Inicialmente a relação parecia perfeita – aliás como quase toda relação quando se inicia. A leitura diária das imagens do cigarro e a construção de um destino único para os dois, isolados do mundo aparentemente seria a vida ideal. Mas as coisas se desarranjam na medida em que a cantora quer ter uma vida além da vida no apartamento.
O filme pode ser visto, dentre outras possibilidades, como uma alegoria da vida e do amor romântico. O Agente elege uma musa a quem somente ele compreenderia e a partir dela e da leitura dos “Arcanos” constrói significado pra sua vida sem sentido. Através da figura do Natimorto isso fica, talvez, mais evidente, pois o feto que não veio a vida fora do útero teve uma vida ideal, desprovida de sofrimentos. Assim também é a busca do Agente, uma vida distanciada dos sofrimentos. Por isso ele elege um ideal – sua musa –a quem, curiosamente só ele entenderia e daria o ‘verdadeiro’ valor. No entanto, a fuga do sofrimento, como já foi versado por diversas filosofias orientais, só incorre no prórpio sefrimento.
Sem querer contar o desfecho, fica aqui a sugestão para que assistam a esse excelente filme e tirem suas próprias conclusões. Longe de conter uma única interpretação esse filme – como toda obra, aliás – enseja múltiplos significados. E como o própro Agente, cada um constrói seus prórprios sentidos.

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