sexta-feira, 5 de fevereiro de 2010

“O viajante árabe é totalmente diferente de nós.”(...)

“O viajante árabe é totalmente diferente de nós. O trabalho de se mover de lugar para lugar é um mero incômodo pra ele, ele não sente prazer com o esforço, e resmunga de fome ou fadiga com todas as suas forças. Nunca persuadiremos um oriental de que , apeado de seu camelo, é possível ter algum outro desejo que não seja acocorar-se em cima de um tapete(isterih), fumando e bebendo. Além do mais, o árabe fica pouco impressionado pela paisagem”

Incapaz de ler sem expor minha condição parcial de ser um leitor informado pela teoria pós-colonial, considero que o texto citado expressa aquela velha e generalizante perspectiva orientalista de construir o outro no mundo e o mundo dos outros como parte de uma diversidade a qual deveriam ser levadas as luzes da razão, da ciência e do modelo econômico liberal.
Não precisamos ir muito longe para ler outros textos com tal perspectiva imperialista, pois a representação (e se trata de uma representação, do processo de construção de uma imagem do outro de nossa cultura que se torna generalizada [ou será que o texto reproduz uma idéia já generalizada]) do árabe se assemelha, deveras, a representaçao clássiva do baiano (ou do indio indolente, no período colonial e ainda hoje). Quando este baiano é representado no seu modelo tradicional e essencialista.
"ele não sente prazer com o esforço, e resmunga de fome ou fadiga com todas as suas forças".
Lembro-me de relato de uma pesquisadora que analisava os arquivos de JOrge Amado, na casa Jorge em Salvador, e que teve o acesso aos arquivos proibidos.
A justificativa é que o setor específico do arquivo em que ela estava a pesquisar seria reformado, só esse setor.
O mais curioso é que sua pesquisa tinha como objetivo nos apresentar uma versão outra do escritor Jorge Amado, bem diferente daquele senhor gordo e bonachão, que, de certa forma, associamos ao Baiano.
Será que minha digressão acaba por ser parcial e preconceituosa acerca do processo de construção das identidades - nacionais ou regionais.
Contudo, em tempos de imperialismo americano e de demonização do mundo árabe [Nossa, mas este texto esta sem a mínima objetividade científica, pois mistura árabes, baianos, índios, indianos, negros, mulheres (ops, estes três não haviam nem sido citados ainda, é melhor eu parar], a representação do árabe não deixa de ser uma outra forma de construir o outro e justificar o processo civilizador, imperialista e colonizador.
HTTP://brasiliandando.blogspot.com
(Obrigado a Simone pelo acesso ao texto do escritor inglês)

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